sábado, 4 de abril de 2009

Tempo faz bem à saúde. Mas para onde ele foi?

Haja fôlego: o dia é curto para cumprir a agenda, cada vez mais abarrotada de tarefas profissionais e compromissos pessoais. Veja o que acontece quando tentamos vencer a briga contra o relógio "Hoje corri tanto" é a frase mais ouvida na atualidade. Não só em metrópoles como São Paulo e Rio mas também no interior, onde o trânsito ainda flui bem. As 24 horas diárias nunca parecem suficientes para acomodar todos os afazeres. Sempre sobram tarefas para o dia seguinte. É como se o tempo passasse cada vez mais rápido. Mal terminam as festas de fim de ano, o país entra em clima de Carnaval. E logo vêm a Páscoa, o Dia das Mães, o dos Pais, o das Crianças... Dali a pouco é Natal - em novembro, as vitrines já estão prontas e nos convencem de que o ano acabou depressa demais e não foi possível realizar o que estava planejado. Vivemos como o coelho de ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, do escritor britânico Lewis Carroll: escravos do relógio, cansados e angustiados. Para encaixar uma rotina frenética nos mesmos 1440 minutos diários, fazemos malabarismos com a agenda, arriscando a saúde. Uma das medidas é roubar horas do sono. Tanto que os serviços 24 horas proliferam. Há supermercados, livrarias e academias que nunca fecham. Outra invenção surpre endente são os programas de MBA na madrugada. Em São Paulo, o Centro Universitário Radial, por exemplo, criou um curso de gestão empresarial com aulas das 22h45 às 2 da manhã. Ao descanso insuficiente, so mam-se outros expedientes para ganhar tempo: substituir o almoço por um lanche, engolido no escritório; faltar à ginástica; adiar os exames mé dicos preventivos. Em geral, só percebemos os efeitos nocivos quando a energia está esgotada e um sintoma nos lembra de que o corpo não é uma máquina. Diante desse quadro, o cientista social Ciro Mar condes Filho, da Escola de Comunicações e Artes da USP, reflete: Aí nos damos conta de que acumulamos uma grande reserva de tempo não vivido, prazeres e relacionamentos adiados". No livro PERCA TEMPO: É NO LENTO QUE A VIDA ACONTECE (ED. PAULUS), ele sugere um balanço: Quanto demos de atenção à pessoa amada? Aos filhos? Aos pais? Aos amigos? Quanto nos divertimos nas férias? Quanto de prazer tiramos do trabalho? Será que de fato vivemos? Segundo ele, é possível atender às exigências contemporâneas sem deixar que a pressão do relógio nos adoeça. O ser humano começa a viver quando sai do automático, interrompendo a repetição mecânica, o saltar de cena em cena sem parar em nenhuma. Quando a pessoa sente o corpo na cena, pode relaxar e ouvir o outro. Daí sentimos que há um mundo acontecendo e dele estivemos ausentes." A diferença foi atribuída à queda, nos mais velhos, da produção do neurotransmissor dopamina. "Quando os níveis caem, o relógio interno anda devagar e o tempo externo parece voar", afirma Pörtner, para quem a dopamina é o senhor do tempo". Um exemplo: os pacientes com Parkinson - doença degenerativa em que os níveis desse mensageiro diminuem - têm dificuldade em notar a sucessão das horas. Remédios que aumentam os suprimentos da substância atenuam a deficiência. A dopamina também está ligada aos mecanismos que regulam a atenção e o desejo. Logo, as reações dos apaixona dos explicam a relação dela com o tempo. "A cascata de ações que envolve a sedução é um processo dopaminérgico. Todos os detalhes, da abordagem à conquista, são intensamente vividos. Naqueles momentos, é como se o tempo não passasse. "Na ausência dela, o tempo evapora."

Relógio Interno

O cérebro é seletivo. Especula-se que eventos do dia-a-dia deixam de ser novidade e são alocados em setores da memória. Ao final de um ano, resta a impressão de que correram poucas coisas dignas de registro. "O nosso banco de dados favorece a sensação de que o tempo galopa", explica Pörtner. "O tempo interno é elástico e pessoal, diferente do externo, cronometrado pelo relógio." Por si só, sentir que a vida passa depressa não traz prejuízos. Para o acupunturista Alex Botsaris, autor do livro O COMPLEXO DE ATLAS (ED. OBJETIVA), o problema é viver agitado, não conseguir desligar. "O stress é necessário para o crescimento, estimula a busca de resultados. Mas, se for continuado, de modo que uma demanda encoste na outra, o organismo se deteriora", diz. Por isso, é vital investir quanto antes em recursos para se proteger.

Onde vamos parar?

O estado de stress permanente gera a sensação de falta de controle sobre a rotina. "É como se você assistisse a um videoclipe em velocidade dobrada. Embora tente prestar atenção, não consegue acompanhar", compara o psiquiatra Cyro Masci, de São Paulo. "Se a situação persiste, vem a impressão de entorpecimento e desesperança: não importa quão rápido você seja, parece impossível estar em dia com as obrigações." A primeira baixa é no sistema imunológico. Pega-se uma gripe atrás da outra. É possível sentir dores no corpo, aumento da pressão arterial, distúrbios na pele e no aparelho gastrintestinal. O malestar não poupa as crianças, que têm agenda cheia e por isso não brincam. Nesses casos, a psicoterapeuta de casais Margareth dos Reis, doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, sugere aos pais: "Desliguem a TV, o computador, todos os estímulos que distraem a família. Assim, é possível a cada um entrar em conexão com o interior e recuperar a energia, além de valorizar as relações pessoais".

Na disputa com os ponteiros, o resultado pode ser:

- Gripe Insônia ou sono agitado - Gastrite - Pressão alta Baixa imunidade - Vitiligo - Dores musculares - Acne - Alergia cutânea - Úlcera - Diarréia

Para desacelerar

- Saboreie a vida, dê mais valor a suas experiências. Pacientes com depressão perdem essa capacidade e os dias passam lentamente em tons de cinza.

- Pare e observe o seu corpo várias vezes. Desse modo, você interrompe o fluxo alucinado de informações que recebe e processa.

- Medite. Ponha uma uva passa na boca. Note textura, cheiro e sabor. Se o pensamento vier, volte a atenção para ela - isso ensina a viver no presente.

- Fique atenta à respiração.

- Inspire e expire lentamente, o que traz calma.

- Liste suas tarefas e estabeleça prioridades.

- Aprenda a dizer não e a pedir ajuda quando necessário.

- Pratique exercícios. A reação do stress demanda uma contrapartida física. Assim, você utiliza a energia mobilizada de forma positiva.

- Invista em prazeres: ouça música, leia, dance. Dê-se o direito de não fazer nada.

- Desligue o piloto automático ao comer, dirigir... A rotina reduz a alegria.

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fonte: Revista Claudia

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