Sábado quase sempre é meu dia de dedicação exclusiva ao trabalho não remunerado: o da administração da casa. Vou à feira, faço supermercado, coloco ordem na casa. Mesmo em meio a tanta estimulação e obrigação ainda presto atenção nas pessoas com quem cruzo e observo o que dizem e o que fazem, com quem estão. Sou voyeur da vida pública, diz um amigo. É desse modo que encontro bons motivos para escrever alguns de meus textos e expor minhas análises, como esta, por exemplo.
Não demorou muito para, no supermercado, eu perceber caminhando quase a meu lado a mãe e sua filha de seis anos, mais ou menos. Elas passeavam, compravam, trocavam idéias. O que chamou minha atenção logo de início foi a tranqüilidade das duas em seu relacionamento. Elas estavam, realmente, juntas e, talvez, sair para fazer compras tenha sido apenas pretexto para o passeio delas já que mais olhavam e conversavam do que colocavam coisas no carrinho.
Em dado momento, a garota pegou algo da prateleira para apreciar de perto. Assim que devolveu o objeto olhou para a mãe e, com cara de choro, reclamou que havia sujado as mãos. A mãe, calma, tirou da bolsa um lenço úmido, limpou as mãos da filha e continuou, tranqüila, o trajeto. Assim que a filha fez menção de pegar outra coisa, a mãe adiantou-se e pegou para ela dizendo que, desse modo, ela não sujaria mais as mãos.
Considerei essa cena emblemática de como temos tentado proteger os nossos filhos das “sujeiras” desse nosso mundo e de como fazemos todos os esforços para que eles não sofram, não tropecem nem caiam, não se deparem com suas dificuldades. Temos protegido nossa prole de forma exagerada, impedindo, assim, que vejam a vida como ela é.
Se gostamos tanto do slogan que diz que educar é preparar para a vida, que raios de vida é essa que achamos que eles irão viver?
Escrito por Rosely Sayão
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